O Carnaval de rua de Brasília em 2019 teve o menor público dos últimos quatro anos. O número total de foliões será divulgado somente nesta quarta-feira (6/3), mas, somados os participantes dos três primeiros dias de festa com a previsão inicial da Secretaria de Segurança Pública (SSP) para a terça (5), a quantidade dificilmente ultrapassará a marca dos 400 mil.
Foram 70 mil no sábado (2), 125 mil no domingo (3) e 70 mil na segunda-feira (4). Na terça, a SSP informou que a expectativa era de 135 mil, número que só será confirmado nesta quarta.
Este ano, o GDF investiu R$ 4 milhões nos 55 blocos de rua cadastrados para levar alegria ao longo dos quatro dias do Carnaval. Desse valor, R$ 800 mil foram para oito, os chamados tradicionais: Asé Dúdú, Baratinha, Baratona, Raparigueiros, Galinho, Mamãe Taguá, Menino de Ceilândia e Pacotão.
Os blocos de rua participaram de um edital de chamamento público, em novembro. Além da verba, o governo disponibilizou estrutura de segurança, cercamento e banheiro químico. A expectativa da Secretaria de Cultura (Secult) era de um total de 2 milhões de foliões.
Alguns fatores ajudam a explicar o público inferior ao esperado: as fortes chuvas – que deram uma esfriadanos ânimos –, o cancelamento de blocos tradicionais e a violência registrada no Raparigueiros e no Baratona, que saíram no Eixo Monumental no domingo. O mesmo se repetiu nos blocos que se reuniram no Setor Comercial Sul, onde a festa acabou mais cedo na terça por causa de brigas.
Cancelamentos
Mesmo com previsão oficial em calendário e demanda por apoio da Secretaria de Segurança Pública, os blocos Raparigueiros e Baratona optaram por cancelar o segundo evento, previsto para a terça-feira (5).
Juntos, eles receberam R$ 280 mil do poder público e previam dois dias de festa. Por serem considerados blocos de grande porte, a Secretaria de Cultura liberou R$ 140 mil para cada. Ainda assim, as agremiações alegaram recursos insuficientes para ir às ruas pela segunda vez.
Os responsáveis pelas agremiações que integram a Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília disseram que a verba disponibilizada pela Secult não foi suficiente para custear mais um dia de festa.
“Com esse valor, é impossível financiar toda a estrutura do Carnaval. Quem faz a folia de Brasília são essas agremiações mais antigas”, disse o vice-presidente da Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília, Paulo Henrique de Oliveira, ao Metrópoles.
Responsável pela Baratona, Paulo Henrique diz que, em 2018, a Secult fez chamamento público para financiar as atrações musicais. Porém, neste ano, a medida não se repetiu.
Protestos
Outro integrante do chamado grupo tradicional, o Galinho de Brasília anunciou, dias antes do Carnaval, que não desfilaria em 2019 por falta de dinheiro. Esta foi a primeira ausência da agremiação na folia desde sua fundação, há 27 anos. De acordo com o presidente do bloco, Romildo de Carvalho, os recursos destinados para o desfile – também R$ 140 mil – não seriam suficientes para bancar as despesas do evento.
O Galinho, que tradicionalmente desfilava em dois dias, já tinha anunciado apenas uma data. Mesmo assim, segundo os organizadores, não seria possível garantir a segurança dos foliões. Por isso, a diretoria da agremiação optou pelo cancelamento. Com o pedido oficial à Secretaria de Cultura de não participar do Carnaval, o dinheiro ficou com a pasta, que investiu em infraestrutura. O valor chegou a ser empenhado, mas não foi pago.
Além do Galinho, outros foliões protestaram durante o Carnaval. O Pacotão também deixou de desfilar dois dias na folia brasiliense sob a mesma alegação: falta de recursos. Abandonou o bloco de domingo e saiu somente na terça. Conhecido pela irreverência e protestos políticos, integrantes da agremiação reclamaram (veja na imagem abaixo).
Facadas, ônibus destruídos, violência
Somente no domingo, o Raparigueiros e a Baratona levaram 90 mil foliões ao Eixo Monumental. A festa, entretanto, foi marcada por cenas de violência. Pelo menos 12 pessoas foram esfaqueadas. Houve ainda brigas, agressões, roubos e furtos.
Na terça-feira, o palco da violência foi o Setor Comercial Sul. O evento no local terminou mais cedo em razão das ocorrências de problemas com foliões. Por volta das 18h, a Polícia Militar estimava que 10 mil pessoas curtiam a festa no espaço, onde foram registrados vários tumultos. As forças de segurança precisaram usar bombas de efeito moral e até mesmo balas de borracha. Foram várias as intervenções de equipes militares com spray de pimenta e cassetetes.
Com brigas generalizadas a cada cinco minutos, muitos foliões decidiram ir embora no início da noite. Até mesmo ambulantes optaram por encerrar o expediente antes do horário previsto. “Estou vendendo bebidas desde sábado nos bloquinhos e, até então, não tinha visto tanta briga”, disse o vendedor Ricardo Lira.
Nem os ônibus escaparam do vandalismo. Até esta terça-feira, levantamento preliminar apontava 39 coletivos danificados durante as festas realizadas nas diferentes regiões administrativas. O número final e o prejuízo total serão apurados na quarta (6), após o fim das comemorações.
Uma série de vídeos – feitos tanto por câmeras de segurança de coletivos quanto por passageiros – mostra pessoas fantasiadas desferindo chutes, murros e fazendo ameaças.
Danos também no metrô
O Metrô-DF teve nove ocorrências de depredação em trens no sábado, quatro extintores indevidamente acionados, duas janelas quebradas e sete portas danificadas. O estrago ocorreu dias após a companhia lançar a campanha “Hora de cair na folia! Só não vale quebrar o Metrô” para conscientizar os usuários sobre a necessidade de preservar o patrimônio público.
No domingo (3), foram outras 13 ocorrências de depredação em trens e, na segunda, mais oito casos, totalizando 30 no decorrer do Carnaval. A Companhia do Metropolitano ainda vai apurar os prejuízos. Em 2018 também houve danos: as perdas chegaram a R$ 50 mil.
Veja vídeo:
Também em 2018, os dias de Carnaval registraram 58 ônibus destruídos, com prejuízo final de R$ 100 mil paras as empresas concessionárias do transporte público do Distrito Federal. Do total, 10 carros eram da Pioneira; 15 da Piracicabana; 31 da Urbi; e dois da Marechal.
Fonte: Metropolis
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