Vinte e quatro anos antes, quando ainda flertava com a política, o socialista não obteve votos suficientes para ocupar uma das cadeiras do parlamento local, mas debutou na Casa nos eventuais afastamentos de Wasny de Roure (PT), de quem era suplente.
No pleito seguinte, Rollemberg navegou em águas calmas e, com 738 mil votos, foi alçado ao posto de senador da República. Mas o carioca de 59 anos e radicado em Brasília desde o primeiro ano de vida ambicionava voos mais altos. Contrariando os institutos de pesquisas – que o colocavam como figurante na corrida pelo Palácio do Buriti, em 2014 –, apresentou sua candidatura. À época, a disputa estava polarizada entre o ex-governador José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), que tentava a reeleição.
Tragado pela Lei da Ficha Limpa e com registro indeferido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Arruda renunciou à corrida ao GDF e colocou em seu lugar Jofran Frejat (PR). O ex-secretário de Saúde herdou parte do espólio arrudista e chegou ao segundo turno, mas foi derrotado por Rollemberg, que se apresentava como opção de quem repugnava a volta de Arruda ao poder e, ao mesmo tempo, reprovava a gestão petista.
Até o dia 28 deste mês, quando os brasilienses voltam às urnas, o socialista precisará muito mais do que sorte para reverter a diferença abissal de votos em relação a Ibaneis Rocha (MDB). No primeiro turno, o emedebista obteve 634.008 votos, contra 210.510 de Rollemberg, uma diferença de 423.498 sufrágios.
A primeira sondagem do segundo turno, realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas, mostra que 73,6% dos moradores do Distrito Federal pretendem votar no ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil seccional DF (OAB-DF), enquanto apenas 26,4% disseram que darão nova chance ao titular do Buriti.
Família tradicional
Apesar de na carteira de identidade constar o Rio de Janeiro como local de nascimento, Rollemberg mudou-se com os pais para Brasília com apenas 1 ano de idade, onde cursou os ensinos fundamental e médio e se formou em história pela Universidade Brasília (UnB). A ligação com a cidade fez o socialista criar um slogan bastante usado no início de sua gestão. Em seu primeiro discurso como governador, em 1º de janeiro de 2015, se autoproclamou da “geração Brasília”.
Rollemberg integra a chamada família tradicional: cristão e casado com Márcia Rollemberg, com quem tem três filhos, cultiva o hábito de visitar a mãe com frequência, mesmo com a agenda sempre cheia – em razão do cargo que ocupa. Aliás, o apartamento de Dona Teresa Sobral Rollemberg, 84 anos, na 206 Sul, passou a ser uma espécie de QG da equipe do governador. Durante o mandato, o atual gestor do GDF preteriu, em diversas ocasiões, a Residência Oficial de Águas Claras para debater os rumos da cidade no imóvel de 220 metros da matriarca do clã.
Da sala de Dona Teresa, saíram decisões importantes e polêmicas, como a que manteve no cargo o então comandante-geral da Polícia Militar, coronel Florisvaldo Cesar, e que, consequentemente, culminou no pedido de exoneração do primeiro secretário de Segurança Pública de Rollemberg: o professor Arthur Trindade. Na ocasião, o oficial e o docente entraram em atrito após a PMDF reprimir com bombas de gás, spray de pimenta e balas de borracha uma manifestação de professores da rede pública.
Veja fotos de Rollemberg ao longo dos seus 59 anos:
Conheça a trajetória de Rodrigo Rollemberg, o candidato que precisa reverter 423 mil votos
Campanha por cargo no Senado, em 2010. Ele venceu a eleição daquele anoReprodução/YouTube
Rollemberg ao lado do ex-candidato a presidente Eduardo Campos, o ex-governador do DF Agnelo Queiroz e o ex-presidente Lula Reprodução/YouTube
Romário vai às ruas, ao lado do correligionário – então candidato ao GDF –, em campanha pelo Senado Reprodução/Facebook
Rollemberg posa ao lado de Agnelo: gestão do atual governador é marcada por críticas ao antecessor Reprodução/YouTube
Governador posa com um dos netos Reprodução/Facebook
Rollemberg em campanha pelo GDF Reprodução/Instagram
Político recebe apoio do senador e ex-governador do DF Cristovam BuarqueReprodução/Instagram
Rollemberg curte folga em praia de Aracaju (SE), durante comemoração do aniversário de sua mãe
Pausa para selfie após ser atingido por “toró” Reprodução/Facebook
No primeiro dia como titular do Palácio do Buriti, em 1 de janeiro de 2015, Rollemberg assinou o decreto que estrutura o governo Reprodução/Instagram
Registro do casamento com a atual mulher, Márcia Rollemberg, há 38 anosReprodução/Instagram
No Facebook, o governador relembrou o pai, Armando Leite Rollemberg, já falecido, e a mãe, Teresa Sobral Reprodução/Facebook
Márcia, Rollemberg e o filho caçula do casal, Pedro Ivo Reprodução/Instagram
Rollemberg, no Instagram: postou um #tbt do Dia Nacional do Futebol, com o filho Ícaro e Nilton Santos, bicampeão mundial com a Seleção Brasileira e ídolo do alvinegro carioca Reprodução/Instagram
Rollemberg, então candidato a governador do DF em 2002, discursa ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que concorria à Presidência da República Reprodução/YouTube
Márcia e Rodrigo Rollemberg Reprodução/Facebook
Campanha por cargo no Senado, em 2010. Ele venceu a eleição daquele anoReprodução/YouTube
Aos 4 ou 5 anos, na Escola Classe 206, na Asa Sul Reprodução/Instagram
Registro do casamento com a atual mulher, Márcia Rollemberg, há 38 anos Reprodução/Instagram
Polêmicas
Ao longo dos seus 3 anos e 10 meses de mandato, Rollemberg teve de lidar com dezenas de paralisações de servidores públicos e termina seu governo brigado com os principais sindicatos. Seu posicionamento divide opiniões: grande parcela do funcionalismo se sentiu desprestigiada diante da postura considerada intransigente do chefe do Executivo local. Por outro lado, o socialista cresceu no conceito de diversos brasilienses que concordam com a medida e defendem uma atitude mais firme dos governantes em relação aos sindicalistas.
Rollemberg concluirá seu mandato resvalado de denúncias de corrupção que bateram à porta do Palácio do Buriti. Em operações como a Checklist e a Trickster, a polícia desmontou tramas produzidas por pessoas enfronhadas em cargos estratégicos na estrutura da sede do governo. No entanto, o caso mais constrangedor ocorreu quando viu o nome do irmão, o advogado Carlos Augusto Sobral Rollemberg, envolvido em suposto esquema de tráfico de influência que agia no coração do GDF.
Há quase duas semanas, Guto e outros alvos da Operação (12:26) foram indiciados pela Polícia Civil. O caso aguarda análise do Ministério Público. A respeito dos episódios, Rollemberg atribui o fato a uma perseguição da PCDF, cujos sindicatos que representam a categoria o acusam de “sucatear” a corporação e acabar com a histórica paridade salarial com a Polícia Federal.
Rollemberg ainda passou boa parte da gestão às turras com o vice, Renato Santana (PSD). A relação ficou abalada após o número 2 do Buriti ser gravado fazendo duras críticas ao atual gestor. O pessedista chegou a revelar que tinha conhecimento de casos de corrupção dentro do governo. O convívio piorou depois de uma cunhada de Santana morrer em um hospital da rede pública de saúde. O vice atribuiu a culpa à má qualidade da gestão do socialista.
O chefe do Executivo local ainda se viu constrangido ao figurar na relação de 16 nomes de governadores eleitos que supostamente teriam recebido propina da JBS nas eleições de 2014. Em maio de 2017, Ricardo Saud, ex-executivo da J&F, holding controladora da JBS, afirmou que a companhia teria desembolsado R$ 852,8 mil para reforçar a campanha do então candidato ao Palácio do Buriti, acusação rechaçada pela defesa do buritizável.
Tarimbado por mais de três décadas de vida pública, Rollemberg se apega ao que chama de “feitos” de sua gestão para tentar reverter a alta rejeição demonstrada em pesquisas. Durante suas andanças, recorre à desobstrução da Orla do Lago Paranoá, à urbanização de parte do Sol Nascente, e ao pagamento em dia dos servidores públicos como exemplos de realizações marcantes de sua administração.
Mais do que sorte, o atual “dono da chave” do Buriti precisará de muito poder de persuasão na reta final da campanha eleitoral para convencer o brasiliense de que merece permanecer na cadeira mais importante do DF.
Fonte: Metropolis
Você precisa estar logado para postar um comentário Login