O Ministério Público de Contas do Distrito Federal (MPC-DF) pediu ao Tribunal de Contas local (TCDF) que determine à Secretaria de Comunicação a suspensão imediata dos pagamentos às empresas de publicidade responsáveis pela propaganda institucional mais cara da gestão do governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Chamaram a atenção do MPC-DF o valor da campanha e o período em que foi lançada: às vésperas do término da atual administração.
Dos R$ 5,9 milhões que serão injetados em publicidade institucional a fim de exibir realizações do GDF, R$ 4,17 milhões foram destinados à Propeg, uma das três empresas que atendem o Executivo local. A Binder ficou com R$ 1,78 milhão. A Desigual não foi contemplada.
A Representação n° 16/2018 é assinada pelo procurador Demóstenes Tres Albuquerque. O documento requer também o encaminhamento da peça para a unidade técnica autorizar, se necessário, inspeção e diligências a fim de verificar a legalidade dos gastos em relação aos princípios da eficiência e economicidade. Também será avaliada a denúncia de que o secretário de Comunicação, Paulo Fona, atuou em passado recente como funcionário da Propeg, empresa beneficiada durante sua gestão no GDF.
Conforme entendimento do procurador, “a penúria nas contas distritais é fato notório”. “Diante deste cenário, de concretas dificuldades financeiras por que atravessa o DF, não parece razoável, a pouco mais de 30 dias para o fim do exercício, que o governo venha a utilizar substancial quantia com o fito de divulgar suas ações, de duvidoso caráter institucional, por intermédio da mídia”, destacou o membro do MPC-DF.
Demóstenes pontua ainda que a regra em vigor no Brasil é a do orçamento autorizativo, ou seja, o Legislativo autoriza o Executivo a gastar de acordo com o deliberado por meio de leis orçamentárias.
Portanto, o procurador conclui que o poder público tem discricionariedade, isto é, poder para avaliar a conveniência e a oportunidade do que deve ser executado. “O fato de ser fixada uma despesa na lei orçamentária anual, como no caso de publicidade e propaganda, não gera o dever de sua realização”, completou.
O procurador relaciona o dispêndio milionário com publicidade à sofrida situação pública na capital da República. “Entende o Ministério Público que a quantia gasta em publicidade vem sendo desarrazoada e desconectada da realidade e, por dedução lógica, possa ter contribuído, ainda que não se saiba a real dimensão, para a atual precariedade dos serviços públicos do DF”, acrescentou.
No TCDF, a representação ganhará um relator. O conselheiro sorteado poderá conceder a cautelar e submetê-la à homologação no plenário.
Propeg e GDF
A Propeg, principal beneficiária do repasse, teve como gerente o secretário de Comunicação antes de ele assumir o cargo no GDF, em abril de 2017. Demóstenes destacou que há provável violação ao princípio de impessoalidade.
“Isso porque, diante dos recursos liberados para custear despesas publicitárias neste último trimestre, mais de 70% foram dirigidos à empresa a qual, supostamente, atuou como preposto”, salientou.
No entanto, toda a documentação interna para a liberação da última campanha publicitária durante a administração Rollemberg foi autorizada por Gabriel Garcia Almeida, secretário adjunto de Comunicação e braço direito do número 1 da pasta.
Tão logo o grupo perdeu a eleição, Paulo Fona viajou de férias e deixou a caneta para seu substituto assinar a papelada dessa ação derradeira. Mesmo a distância, porém, coordenou todo o processo, embora não tenha assinado a documentação.
Confira a representação do MPC-DF:
Representação 16/2018 MPC-DF by Metropoles on Scribd
Campanha
Como mostrou o Metrópoles, a quantia despejada nas últimas semanas do governo é mais do que a metade de todo o montante gasto com publicidade nos três primeiros meses de 2018 (R$ 9.136.548).
Rollemberg teve quatro anos para mostrar serviço e, recentemente, foi testado e reprovado nas urnas. Mesmo assim, já empenhou os quase R$ 6 milhões na chamada propaganda institucional, quando o governo exibe conteúdos autopromocionais.
Há outro tipo de publicidade, a de utilidade pública, que prioriza temas considerados de interesse social. Por exemplo, combate à dengue, uso racional da água, alertas sobre queimadas, aleitamento materno, vacinação, campanhas de respeito às regras de trânsito e até mesmo as sobre pagamento de impostos estão assim classificadas.
Não é esse o tipo de mensagem que o cidadão vai receber nos próximos dias. A ideia da campanha derradeira de Rollemberg é insistir na tese de que deixou a casa arrumada. Um recado pelo qual o próprio cidadão vai pagar.
Inversão de prioridades
No comando da pasta, Fona turbinou a relação do Buriti com os veículos de comunicação e com as agências de publicidade. De 2016 para 2017, o gasto do GDF com campanhas saltou de R$ 79.431.199,10 para R$ 139.564.751,00, um aumento de 70%.
No primeiro ano do governo, 2015, o investimento foi bem menor: R$ 29.571.785,60. E nos nove primeiros meses de 2018, R$ 56.098.024,00. Como é ano eleitoral, as vedações da lei acanharam o investimento no setor.
Em 2016, foram destinados R$ 27 milhões para campanhas de utilidade pública, enquanto as peças institucionais receberam R$ 18 milhões. Em 2017, os gastos com as duas aumentaram, mas as peças de promoção do governo receberam R$ 71 milhões, enquanto as de interesse público ficaram com R$ 47 milhões.
Nos nove primeiros meses de 2018, a diferença ficou ainda maior. Foram gastos R$ 24 milhões em peças institucionais, enquanto as de utilidade só receberam R$ 3 milhões.
O outro lado
Ao Metrópoles, o GDF informou, em nota, que todas os esclarecimentos solicitados pelo Ministério Público serão devidamente respondidos.
Fonte: Metropolis
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