Esther morreu após quatro dias internada no Hospital Materno Infantil (Hmib). “A lei protege a mulher desde o nascimento até a idade mais avançada, por isso foram indiciados por feminicídio. Houve um menosprezo em relação à bebê no âmbito familiar”, explicou o chefe da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), Hudson Maldonado, que investiga o caso.
A materialidade para indiciar o casal está em depoimentos colhidos dos médicos que atenderam a criança, dos policiais que tiveram o primeiro contato com os pais, de um amigo que ajudava a família financeiramente e do prontuário médico da bebê.
A criança só havia passado por duas consultas médicas desde que nasceuReprodução/Facebook
Há indícios de maus-tratos e negligência nos cuidados com Esther. De acordo com o delegado, as vacinas da menina estavam em dia, mas o casal não a levava para as consultas recomendadas pelo Ministério da Saúde — foram apenas duas em seis meses.
Em um desses poucos atendimentos feitos na Clínica da Família de Sobradinho, no dia 10 de outubro, uma médica notou que havia um deslocamento na clavícula da menina e sugeriu a internação. Também foi constatada perda de peso. A especialista será intimada a depor em um novo inquérito da Polícia Civil.
“Queremos saber se naquele momento já era possível identificar os indícios de maus-tratos e por que a profissional não acionou a polícia ou o conselho tutelar”, explicou Maldonado. Na consulta, a mãe alegou que o ferimento era devido a uma queda na banheira e se queixou também de vômitos em função de refluxo.
O conselho tutelar só tomou conhecimento do caso em 29 de outubro, pela direção do Hospital Regional de Sobradinho (HRS), onde a menina foi levada após parar de respirar em casa. Na unidade de saúde, médicos identificaram queimaduras na vagina, ânus, virilha e rosto da criança, além de lesões antigas já calcificadas.
O pai e a mãe receberam voz de prisão ainda no hospital, após denúncia da equipe de saúde. O delegado solicitou à Justiça que o casal passe por um exame psiquiátrico. “Precisamos entender se estamos lidando com monstros ou pessoas que sofrem sérios problemas psiquiátricos”, destacou o policial. Formalmente, o casal exerceu o direito de permanecer calado na delegacia. Segundo relatos, o pai era usuário de drogas e estava em tratamento há dois anos.
“Quando entrei na DP e vi eles, não imaginava que eram os pais da criança. Pensei que se tratava do registro de outra ocorrência. Todos que tiveram contato com o casal ficaram impressionados com a forma como eles ficaram diante da situação. Não demonstravam emoção, preocupação”, relatou Hudson Maldonado.
Para a polícia, a mãe atuou de forma ativa. Já o pai foi negligente com a situação. Não denunciou nem fez algo para mudar. O laudo cadavérico será concluído em 30 dias. O corpo da bebê foi liberado do Instituto Médico Legal (IML) do Distrito Federal na manhã desta segunda-feira (5/11).
Prisão
No dia 30 de outubro, o juiz Aragonê Fernandes, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), converteu a prisão de ambos os acusados em preventiva.
Na ata da audiência de custódia, o magistrado destacou que o crime é uma “daquelas situações que espanta o espírito e traz desassossego à alma”. Aragonê também apontou sinais de tortura apresentados no corpo da criança, como as múltiplas lesões e queimaduras, ressaltando que o pai foi vítima de abuso sexual na infância.
Nota da Saúde
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que Esther teve sua primeira consulta na Unidade Básica de Saúde nº 2, de Sobradinho II, no dia 10 de outubro. “Na avaliação clínica realizada por médico de família, foi constatada hematoma na clavícula, segundo a mãe da bebê, ocasionada por queda da banheira. A mãe também se queixou de vômitos em função de refluxo”, ressaltou.
Ainda de acordo com a pasta, consta no prontuário da paciente que os pais saíram da consulta com encaminhamento para internação no HRS, com diagnóstico de desnutrição e fratura de clavícula.
A secretaria esclarece que os pais chegaram a levar pequena à emergência ortopédica do HRS no mesmo dia. No entanto, não consta no relatório de atendimento a apresentação, por parte deles, de encaminhamento para internação. Por isso, a paciente foi atendida, medicada e liberada.
Fonte: Metropolis
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