Um capitão da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) lotado na Casa Militar que tinha como função garantir a segurança pessoal do governador, Rodrigo Rollemberg (PSB), e também da primeira-dama, Márcia Rollemberg, envolveu-se em um acidente de trânsito. João Felipe Holanda Noronha conduzia uma viatura descaracterizada – um Ford Focus branco – quando atingiu um Ford Ka preto.
Após a colisão, o oficial trocou telefones com a motorista e pediu que ela providenciasse três orçamentos para consertar o para-choque traseiro. No entanto, o valor nunca foi pago e a condutora acusa Noronha de calote.
O acidente ocorreu em 27 de abril, uma sexta-feira. No dia seguinte, a professora Juliana*, 24 anos, registrou ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul). Segundo o documento, a colisão ocorreu por volta das 15h30.
A condutora relatou que a pista de conexão entre as quadras 207 Sul e 107 Sul estava congestionada e o trânsito seguia lento. “Subindo para a 107, um veículo Ford Focus bateu na traseira do meu carro. A pista estava congestionada e, por isso, o trânsito estava fluindo bem devagar, com constantes paradas”, narrou.
Juliana ainda afirmou que a viatura – geralmente usada pela primeira-dama, Márcia Rollemberg – estava na tesourinha, esperando para entrar na pista, mas o oficial falava ao celular e não percebeu que o carro dela passava.
“Dei passagem, mas, por estar no celular, ele não visualizou que eu havia deixado ele entrar, então avancei e ele acelerou depois, atrás de mim. Acabou batendo no meu carro”, explicou a motorista.
“Assessor do governador”
Ao descerem dos veículos para conversar, o militar identificou-se a Juliana como assessor do governador Rollemberg e pediu que a mulher anotasse seu número e enviasse três orçamentos.
“Ele também disse que não havia seguro e o carro era do GDF [Governo do Distrito Federal], não particular, e que ele, Felipe Noronha, era da assessoria do governador. Apesar disso, o veículo não tinha nenhuma identificação de ser do GDF”, disse Juliana.
“Felipe Noronha insinuou que eu estava ‘dificultando’ o problema e tentando ganhar vantagem em cima de sua obrigação de custear o conserto do veículo, afirmando que o valor sugerido daria para arrumar todo o meu carro, o qual já estava ruim, o que não é verdade”, ressaltou a motorista.
Depois da conversa por meio do WhatsApp, o policial nunca mais respondeu à condutora. Com o prejuízo, a mulher procurou a Corregedoria-Geral da Polícia Militar para denunciar o caso, assim como o Núcleo de Controle da Atividade Policial (Ncap), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), além de ingressar com um processo na esfera cível por dano moral e material.
Exoneração
Logo após o Metrópoles procurar a Casa Militar para ouvir a versão do GDF sobre o caso, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) determinou que João Felipe Holanda Noronha fosse exonerado. O ato foi publicado em edição extra do Diário Oficial nesta quarta-feira (20/6).
O capitão ocupava o cargo de chefe de equipe do Núcleo de Equipes, da Gerência de Segurança, da Diretoria de Segurança Pessoal, da Subchefia de Operações de Segurança da Casa Militar. Rollemberg também suspendeu a gratificação militar de segurança institucional que o oficial recebia.
REPRODUÇÃO/DODF
O outro lado
O chefe da Casa Militar, coronel Márcio Pereira, afirmou à reportagem que a conduta do ex-subordinado será apurada por uma sindicância interna aberta pela própria PMDF, pois o oficial foi exonerado.
O coronel Pereira ainda disse que “todo o episódio será apurado, tanto na esfera disciplinar quanto na administrativa. É importante dizer que, no momento do fato, o policial estava sozinho e não transportava nenhuma autoridade. Além disso, é condenável a forma como ele conduziu as coisas”.
Por meio de nota, a Casa Militar informou que “quanto à conduta do servidor e aos possíveis prejuízos oriundos do sinistro, estes serão apurados em processos próprios”.
O que diz o capitão
Em conversa com a reportagem, o capitão Noronha negou todas as acusações feitas pela motorista. De acordo com o militar, a pessoa culpada pelo acidente foi a condutora do Ford Ka, que deixou o carro descer no declive da tesourinha e atingiu a frente do veículo oficial.
Noronha também negou que estivesse falando ao celular no momento da batida. “Em nenhum momento fiz valer da minha função para tirar proveito daquele acidente. Após o ocorrido, a motorista me apresentou orçamentos com valores completamente descabidos, superiores a R$ 1,7 mil, para consertar o dano em um para-choque que já estava bastante danificado”, afirmou.
O militar também destacou que, após a apresentação dos orçamentos, ele não foi novamente procurado pela condutora e ela não aceitou o pagamento de valores mais baixos para consertar o carro. “Tive a impressão de que ela queria tirar proveito da situação para reformar toda a traseira do veículo, com o que não concordo. Meu trabalho, tanto na PM quanto na Casa Militar, sempre foi feito de forma ética e responsável”, disse Noronha.
Fonte: Metropolis
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